Até agora, o mundo não despertou para a revelação de que 2017 será um ano tão bizarro quanto 2016. Em janeiro, surgiram alegações de que a Rússia tem imagens de Donald Trump vendo prostitutas urinar em uma cama de hotel que já havia sido ocupada pelos Obama (!) e está usando esses dados para chantagear o presidente eleito.
Deixando de lado os rumores políticos não confirmados, que Trump negou veementemente (ele twittou em resposta, chamando a história de “notícia falsa”), há muito para conhecer se você não estiver familiarizado com fetiches em geral – ou o que chamam de “esportes aquáticos” em particular.
A essência do fetiche da urina está muitas vezes relacionada à humilhação, poder e nojo. A micção é um ato privado e a urina é culturalmente vista como impura. Portanto, a excitação com a micção – em relação a si mesmo, sobre os outros ou sobre objetos – é muitas vezes ligada à ideia de subjugação. Também tem um aspecto proibido, pois ver outras pessoas urinando daria uma emoção no estilo voyeur, de quebrar as regras.
O termo “chuva dourada” vem do mito grego no qual Zeus consegue engravidar a musa Danae, que estava trancada em uma torre de bronze, transformando-se em uma chuva de ouro.
A urina serviria a muitos propósitos: é um objeto sexual em si mesma, mas também é sexy porque é usada para humilhar alguém ou “capturar a essência” de um parceiro sexual. Assim, encaixa-se em ideias sadomasoquistas sobre o poder, humilhação e excitação. Nada de novo, mesmo se o método é mais chamativo do que os outros.
Não há nada de errado ou estranho com a grande maioria dos fetiches, incluindo fazer xixi. Entender isso, no entanto, tem sido uma longa jornada. O Manual de Diagnósticos, texto que define condições psicológicas e outros distúrbios, teve uma variedade de abordagens para lidar com fetiches.
As edições anteriores do manual classificavam os comportamentos sexuais atípicos como diagnósticos. O DSM-IV listou o comportamento do masoquismo como uma desordem. A nova versão, no entanto, define fetiches como problemáticos apenas quando causam sofrimento significativo. Em outras palavras, um fetiche com urina é um problema se causa incômodo à própria pessoa ou se é feito com parceiros sem o devido consentimento.
A psicologia atual não vê os fetiches como algo prejudicial ou perturbador. Então, não há nada inerentemente “depravado” sobre micção, escatologia e outros fetiches com fluidos corporais. Não se envergonhe.
Há muita discussão na psicologia sobre como pessoas diferentes desenvolvem fetiches distintos. É uma conversa que tem acontecido há séculos. No século XIX, por exemplo, a palmada foi um deles porque muitos senhores britânicos exigiam isso das prostitutas francesas, embora seja um comportamento sexual conhecido desde a Roma antiga. A teoria que prevaleceu foi a de que os homens britânicos estavam reagindo a uma parte de sua história de vida: os espancamentos em internatos ingleses.
Alguns psicólogos atuais avaliam que fetiches como a urofilia podem ter raízes na infância, enquanto outros pensam que estão relacionados à adolescência. Um objeto foi associado a uma forma particularmente poderosa de excitação sexual ou gratificação e, na idade adulta, a pessoa pode incorporá-lo em sua vida sexual.
As pessoas podem, em parte, ser influenciadas pela rejeição do sexo oposto e/ou pela excitação juvenil encaminhada para outro lugar (deliberadamente ou acidentalmente); ou associar a excitação sexual a objetos que pertencem a uma pessoa emocionalmente significativa – como a mãe ou a irmã mais velha -, quando há transformação simbólica.
Uma pesquisa de 2015 sugeriu que aprendemos fetiches e gestos sexuais de todos os tipos como aprendemos línguas: de muitas formas e dependendo das circunstâncias.
E não é tudo sobre a infância ou experiências na adolescência. Em um famoso estudo nos anos 60, demonstrou-se que associações fetichistas poderiam ser produzidas em laboratório. Participantes do sexo masculino viram imagens de botas e mulheres nuas em sequência, enquanto tiveram sua excitação sexual medida. Depois de um tempo, os sujeitos começaram a ficar excitados com o aparecimento apenas das botas. Ao que parece, os fetiches podem ser condicionados em qualquer ponto de nossas vidas.
Curiosamente, um cientista revelou que também pode haver uma base neurológica para um dos fetiches mais comuns: o dos pés. Estima-se que há uma reconexão das partes do cérebro centradas na excitação sexual e daquelas relacionadas às concepções de nossos próprios corpos. Não se sabe o que gera essa reconexão, mas atividades sensoriais e excitações específicas podem ser tanto neurológicas como psicológicas.