De muitas maneiras, você deve muito da sua vida sexual ao fundador da Playboy. Descubra aqui algumas das mudanças significativas que Hugh Hefner trouxe à sociedade.
Na noite de 27 de setembro de 2017, a Playboy Enterprises informou que Hugh Hefner, fundador da Playboy Magazine e indiscutivelmente uma das figuras norte-americanas mais emblemáticas do século XX, faleceu aos 91 anos.
Hefner foi uma figura polêmica por muitas razões, e seu legado cultural provavelmente será analisado de diversas maneiras nas mídias sociais nas próximas semanas. Mas uma coisa que é irrefutável é que Hefner mudou para sempre a maneira como praticamente o mundo todo vê o sexo.
Provavelmente há muitas coisas sobre a sua própria vida sexual que o fundador da Playboy é indiretamente responsável (ou, em alguns casos, diretamente). Aqui você conhece apenas algumas delas.
1. Pornografia na internet
Antes da Playboy ser lançada em 1953, a pornografia certamente existia: havia revistas, filmes de despedida de solteiro e, se você realmente quiser voltar lá atrás, até mesmo já foram encontrados desenhos em cavernas com cenas de sexo realmente explícitas. Mas a pornografia não era tão acessível quanto agora, muito menos tão generalizada.
As revistas e filmes pornográficos eram vendidos e trocados sempre de maneira discreta, muitas vezes escondido como algo proibido, e a masturbação ia pelo menos caminho. Ela sempre foi tipicamente considerada como algo errado que só pessoas depravadas faziam (e infelizmente isso continua verdade para alguns adolescentes e principalmente, mulheres). Se sua avó já disse para você que você ia criar pelos nas mãos se ficasse muito tempo no banheiro, você também foi vítima disso.
Pois bem, Hugh Hefner pensava que isso era absolutamente ridículo, e ele considerava o sexo e o prazer como algo tão importante quanto outras atividades intelectuais – e ele provou que podia fazer dinheiro abraçando ambos.
Ao publicar fotos nuas de mulheres ao lado de artigos super interessantes e relevantes sobre a luta pelos direitos civis e a Guerra do Vietnã, Hefner elevou nossa concepção da pornografia de algo que deveria estar escondido a algo que deveria ser celebrado, até mesmo abraçado, como uma forma legítima de autoexpressão.
Ironicamente, em 2015, a Playboy decidiu parar de publicar fotos de mulheres nuas, argumentando que não poderia mais competir com a proliferação da pornografia gratuita na internet (a empresa voltou atrás nessa decisão no início deste ano).
No entanto, mesmo que as fotos de mulheres nuas na Playboy pareçam pouco em comparação com os milhões de vídeos pornô disponíveis atualmente, esses sites nem ao menos existiram hoje em dia se a Playboy de Hugh Hefner não houvesse contribuído muito para o fim do tabu da masturbação e do sexo em geral.
2. Depilação
Hoje, você praticamente não consegue encontrar um vídeo pornô sem que a maioria das mulheres esteja devidamente depilada, principalmente na região da vagina; A depilação da vagina tornou-se onipresente, tanto na pornografia quanto no quarto.
Na verdade, estima-se que 62% das mulheres se depilem nessa região regularmente, de acordo com um estudo de 2016. Mas quando Playboy começou, uma vagina depilada era algo impossível de se ver – principalmente porque, de fato, ao longo de grande parte da história as únicas mulheres que depilavam os pelos da região vaginal eram as prostitutas.
Em suas primeiras décadas, a Playboy não se desviou dessa norma. A grande maioria das modelos da Playboy que exibiram seus órgãos genitais tinham pelos na região (e na verdade, a controvérsia interna sobre a decisão de mostrar ou não os pelos pubianos foi tão intensa na época que levou Hefner a cunhar a frase “Guerras Púbicas”).
Mas na década de 90, o aumento da demanda de clientes por mais conteúdo “hardcore” inspirou a Playboy a começar a deixar as modelos mais livres em relação à depilação, com mais de um terço das modelos removendo todo o pelo púbico, de acordo com um estudo.
Isso provavelmente foi motivado principalmente por preocupações mais pragmáticas – afinal, a falta de pelos dá uma visão de acesso total a vagina -, mas graças à revista, as vaginas depiladas se tornaram um padrão da indústria, e eventualmente se tornaram algo comum para grande parte de todas as mulheres do mundo (e também se tornou aceitável para os homens rasparem seus pelos pubianos também).
3. Aplicativos de encontro
Hugh Hefner é amplamente citado quando o assunto é a Revolução Sexual da década de 1970. Na verdade, quando perguntado pelo “New York Times” sobre o que o deixava mais orgulhoso em sua história, Hefner respondeu: “Eu mudei as atitudes em relação ao sexo. Eu garanti que pessoas legais possam viver juntas, que não existe mais a noção de que o sexo antes do casamento seja algo ruim. Isso me dá grande satisfação.”
Embora Hefner certamente não fosse o único responsável por essa mudança – o feminismo, a contracultura e a invenção da pílula anticoncepcional também desempenharam um papel enorme – é verdade que tanto a revista quanto personagens de solteiros ajudaram a promover a ideia de que o sexo antes do casamento não era apenas normal, mas era uma forma necessária de exploração pessoal. E é quase impossível dizer o quão importante isso foi e é para a sociedade como um todo e para a vida de cada um de nós.
Antes da Revolução Sexual, o sexo era considerado algo que deveria ocorrer quase exclusivamente para a procriação, dentro dos limites do casamento. Se você fosse um homem que fazia sexo antes do casamento, você não ficaria necessariamente envergonhado, mas com certeza não poderia falar sobre isso abertamente; Se você fosse uma mulher que fazia sexo por prazer antes do casamento, você provavelmente seria condenada por isso.
Ao publicar artigos a favor do sexo antes do casamento em um momento em que isso era totalmente considerado como um tabu, a Playboy estabeleceu as bases para nossa cultura de conexão atual, para o melhor ou o pior; sem Hefner, aplicativos como Tinder, Grindr e Bumble provavelmente não existiriam.
4. Liberdade de expressão sexual
Um aspecto ignorado do legado de Hefner é que ele defendeu pessoas gays, lésbicas e transexuais quando poucas outras pessoas o fariam. Nos primeiros dias da revista, ele fez uma campanha ativista contra as leis anti-sodomia; mais tarde, ele falou em relação ao HIV/AIDS quando os governos do mundo inteiro ainda evitavam o assunto, e ele estava aberto sobre sua própria experimentação em relações com pessoas do mesmo sexo já na década de 1960, numa época em que a “bissexualidade” mal estava no léxico.
Sim, o objetivo principal da Playboy era mostrar a pele, mas Hefner também defendia a liberdade de auto expressão sexual, seja você gay ou heterossexual ou em algum lugar intermediário.
“Sem a liberdade de fazer sexo com quem escolhermos na privacidade de nossas próprias casas, voltaremos a revolução sexual e retornaremos para um tempo mais antigo e puritano”, disse ele em um editorial da Playboy em 2012.
5. Sexo selvagem em geral
A Playboy teve um relacionamento complicado com a indústria do sexo em geral: Hefner não queria estrelas pornográficas ou profissionais do sexo na revista, e a revista não permitia que os fabricantes de brinquedos sexuais anunciassem com eles, preferindo vender espaço para marcas mais convencionais para promover sua imagem limpa.
Mas a revolução sexual e a sexualidade alternativa estavam no cerne da revista: Hefner escolheu colocar a modelo super conhecida e emblemática Betty Page em sua capa pela sexta vez em 1955, e a revista incorporou algemas e chicotes em algumas imagens, trazendo aos poucos o sexo selvagem para a pauta.
Então, se seus gostos sexuais são um pouco “diferentes” do normal e mais “pesados”, você provavelmente terá que agradecer a Hugh Hefner por poder ir até uma sex shop comprar mordaças, chicotes ou as algemas de sua escolha.
6. Poliamor
Sim, o poliamor já existia antes que Hugh Hefner começasse a desfilar com um elenco intercambiável de mulheres loiras aos seus braços (inclusive pessoas famosas como o criador de Mulher Maravilha já tinham relações de poliamor na década de 1920). Mas ninguém popularizou o estilo de vida e o colocou como algo comum para a sociedade como Hefner fez.
Enquanto ele era muitas vezes zombado (ou invejado) por sua inclinação para jovens mulheres loiras, Hefner disse que ele praticava o poliamor porque achava que a monogamia não era uma opção realista para ele. “Eu tinha muitas namoradas, mas não é o mesmo que trair. Não estou enganando ninguém. Estou sendo muito aberto sobre o que eu faço e minhas companheiras podem escolher aceitar isso ou não”, disse ele em 2009.
“Eu acho que quando você está em um relacionamento, você deve ser sincero acima de tudo. A verdadeira imoralidade da infidelidade é a mentira”. Nesse sentido, Hefner praticou o poliamor – ou teve múltiplas parceiras – antes que o termo “poliamor” fosse realmente algo levado a sério na época.
7. Controle de natalidade
É fácil esquecer isso, mas a pílula anticoncepcional só se tornou legal nos Estados Unidos para uso em 1960. Antes disso, os homens eram os únicos responsáveis pela prevenção da gravidez, porque a única forma confiável de controle de natalidade disponível era o preservativo. No entanto, a Playboy abraçou a pílula desde o início, implicitamente argumentando que os homens não devem suportar sozinhos o ônus de prevenir a gravidez.
Pode soar um pouco machista, mas na verdade esse discurso e a disseminação da pílula trouxe ainda mais liberdade para as mulheres. Se a sua parceira usa a pílula ou qualquer outra forma de contracepção hormonal, em parte, você tem que agradecer ao fundador da Playboy.
Descanse em paz, Hugh Hefner!